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Anônimos: Cultura também é descoberta



“Teve uma época da minha vida em que eu comecei a trabalhar com artesanato e fui embora para Ilha Grande, fiquei em Paraty um tempo. Tive um contato com a cultura popular muito forte. Fui para o Recife, conhecer o Maracatu, as Cirandas, o Frevo; fui para o Ceará, conhecer o Coco de Roda, a Caninha Verde. No fim, tudo isso me virou uma chavezinha, e pô, eu sou parnaibano, aqui tem o Samba de Bumbo, que é o samba rural, uma manifestação popular que eu já participava desde que nasci. Estava indo tão longe buscar alguma coisa que está aqui... E no fim, voltei com a gana de estudar melhor a minha raiz, o meu chão. Voltei para cá no intuito de preservar a história preta e a indígena que, infelizmente, foram apagadas de uma forma que a gente nem sabe de onde começar a falar, mas a memória negra ainda está resistindo. Eu penso em deixar essa memória viva, a única vontade minha é que isso não acabe.”


Santana de Parnaíba, 24 de novembro de 2018




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