Foi nesse arretado pedaço da Região Nordeste que eu nasci. Ainda bem pequeno, corria entre os capins grandes e verdes dos roçados de Monte Santo, agreste baiano. Sentia o ar puro de um lugar isolado dos grandes centros e ouvia os passarinhos cantarem sua mais singela melodia.
Com a migração dos nordestinos para São Paulo em alta, no início dos anos 2000, troquei a vida no campo pela da cidade. Desembarquei na (ainda) terra da garoa e me vi atordoado com tanto barulho e pessoas andando a passos largos, pra lá e pra cá. O encanto pelas diferenças, no entanto, sempre me acompanhou desde pequeno. Apesar de tudo muito novo, o solo era bem fértil para centenas de novas experiências e histórias que estariam por vir.
Estou construindo minha vida em São Paulo desde então, um lugar no qual digo que amo, assim como as pessoas que compõem esse estado expoente do Brasil. A saudade da terra e das pessoas que deixei para trás me ajudam a encarar as dificuldades que terei de enfrentar pela frente. E esse fortalecimento se solidifica cada vez mais nas vezes que visito meus parentes da Bahia.
Em julho deste ano, passei duas semanas em um lugar onde tão pouco vivi, mas que tenho a audácia de chamar de casa. Dos nordestinos, muitas coisas sempre me encantaram e continuam encantando. Seja o brio que têm ao trabalhar, com tanta força e determinação, seja durante uma conversa, que chama atenção pelo linguajar carregado, com expressões que poucas vezes ouço. Aperreando, mangando, labutando, arreliando, todos gerúndios característicos de um diálogo secular. A fartura de comida na mesa, independente da classe social, também é impressionante, e ganha contornos ainda maiores com a necessidade que o povo demonstra em compartilhar com quem chega ou aos que estão de passagem por ali. Os mais abastados servem diferentes tipos de comida. Os mais simples, botam na mesa o tradicional, mas a quantidade, ela é a mesma. O gosto por dividir, por satisfazer, por saborear. Isso é bastante. Os chapéus tradicionais de couro alaranjado nas cabeças, artigo usado principalmente pelas pessoas mais velhas, também ajudam a compor a idiossincrasia do lugar. É um mar de coisas que vai desenhando o nordestino com os mais intensos traços que um lápis possa criar, que nem sempre foge dos estereótipos, é verdade, mas que faz dos riscos também reflexo do que é esse povo.
Com o fim das férias se aproximando, aos poucos estou voltando para minha vida na cidade, na qual já estou tão bem habituado e por ora não quero trocar. Ao Nordeste querido, à Bahia de todos os Santos, de todos os amores e de todas as cores, fica o meu agradecimento. Por onde eu for levarei esse pedaço de terra no peito, me orgulharei sempre de onde dei meu primeiro suspiro, meu primeiro choro e o primeiro sorriso.
Daqui agora te assisto ficar mais longe, enquanto te saúdo. Até logo, Bahia. Obrigado.

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