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Um quase exílio


Minha terra tem um futuro,
Que temo como será;
Os nomes, que por aqui permeiam,
Não passam confiança como antes já.

Nosso Planalto tem mais estrelas,
Nessas várzeas mais delatores,
Nossos títulos não têm mais vida,
Nosso futuro de mais horrores.

Em cismar – sozinho – à noite –
Mais notícias tento buscar;
Minha terra tem estadistas,
Os quais alguém delatará.

Minha terra preza por primores,
Que tais não vejo mais alcançar;
Em cismar – sozinho – à noite –
Mais notícias tento buscar;
Minha terra tem estadistas,
Os quais alguém delatará.

Não permita Deus que eu sofra,
Sem que no melhor possa acreditar;
Sem que eu tente vencer os horrores
Que por aqui não parecem acabar;
Sem qu'inda aviste peças do jogo,
Em que em conjunto não possam tramar.




Desculpe, Gonçalves Dias. Sei que quando a Canção do Exílio você escreveu, o nacionalismo era forte e a necessidade de se libertar das amarras portuguesas evidente. Sua busca poética pela valorização de nossas riquezas naturais é histórica. Já consagrada.
Eu, ainda um sonhador contínuo de dias melhores, peço licença para tal abuso. Não desestimulo seus ideais, apenas uso da estrutura para adaptar ao nosso atual momento.
Que um dia, Gonçalves, possamos olhar as palmeiras e ouvir o cantar do Sabiá. A melodia ainda está longe.

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